sábado, 29 de agosto de 2009

Ou isto ou aquilo

Não consigo recordar de algum momento da minha vida em que não tenha sido perdidamente apaixonada por livros. Aos sete anos dividia minha paixão entre os “livros de casa”, que eram aqueles com mais imagens e menos texto, somados às coleções Julio Verne, que eu adorava, e Monteiro Lobato, que, por algum motivo sobrenatural, nunca terminei de ler – fica a mácula no meu histórico como leitora, nunca terminei um livro do Monteiro Lobato - ; e os “livros da escola”, onde conheci a primeira biblioteca e os primeiros clássicos.
Entre todos os livros que tomava por empréstimo, Ou isto ou aquilo, da Cecília Meireles, era meu favorito. Ou isto ou aquilo foi, e continua sendo, o único livro que reli inúmeras vezes. Recordo perfeitamente da capa, das gravuras e de como era arrebatada pelo contato com as palavras que muitas vezes li em voz alta para quem quisesse ouvir. Ainda hoje, vinte e dois anos depois, sei quase todos os poemas de cor. E continuo achando que, faladas, as palavras ganham ainda mais corpo, cores e significados do que têm no papel.
Como qualquer apaixonada, e, portanto, inconseqüente, venderia um rim para ter em minha biblioteca um exemplar da edição de Ou isto ou aquilo daquele final da década de 80. Diante da impossibilidade de tê-lo, comprei, há alguns anos, a edição mais recente, que é bem bonita, com gravuras delicadas e letras enormes. Mudou o formato, mas as palavras em que me encontrei com a poesia continuam lá – e, principalmente, aqui.

As meninas


Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
"Bom dia!"

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.

Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:


"Bom dia!"


Poema de Cecília Meireles, no livro Ou isto ou aquilo.

3 comentários:

  1. podia ser uma música..... eu faria uma musica

    ResponderExcluir
  2. Eu comecei a gostar de livros por causa do Monteiro Lobato. Li tudo, tudinho. Amei o poema e amo Cecilia, mas nunca li esse livro. bjobjo

    ResponderExcluir
  3. Déa é todas elas: Maria, Carolina e Arabela.

    Beijos

    ResponderExcluir