Eu tenho uma mãe viciada em leitura. Desde que eu era bebê, acredito, a vejo ler antes de dormir - e não é aquela lidinha rápida pra dar sono não: é como um pico na veia, uma tragada profunda. Ela simplesmente precisa ler. Imagina o quanto esse exemplo foi importante pra mim. Criança, eu me deitava em sua cama nas manhãs frias e levava meus gibis de Pato Donald e Mônica para imitá-la. A leitura foi certamente a coisa mais importante da minha vida.
Pobre, depois remediada, professora, portanto com acesso fácil a bibliotecas, minha mãe sempre tem 3 ou 4 livros ao seu redor. Sua pequena estante de livros, em casa, é ocupada basicamente pelos livros que lhe dei de presente. Porque minha mãe simplesmente não compra livros - dinheiro ela deixa pros lanches e brinquedos dos netos. Então a cada aniversário ou Dia das Mães eu sei que ela fica em expectativa, se perguntando se desta vez vou levar uma obra inédita (quantas vezes eu achei que ia surpreender e o livro já tinha sido lido e relido) ou um classicão daqueles de chorar. Sim, porque minha mãe chora copiosamente ao ler. O último que a deixou de olhos inchados foi o da Fal.
Se eu tivesse que gravar minha mãe numa única imagem, seria a dela sentada no sofá, as pernas cruzadas, os óculos na ponta do nariz e o livro aberto no colo. Uma nobre, descreveu uma vez um amigo.
E a cada aniversário/data especial peço ajuda ao marido para escolher um título que deixe minha mãe enlouquecida. Rodamos as livrarias atrás de algo "novo". Depois, sei que ela gostou quando ligo para sua casa a qualquer hora e ela quer me dispensar logo. Mas é difícil. Russos, franceses, ingleses, leu todos. Porcarias idem: os Dan Brown e bestsellers da vida. Ultimamente tenho dado biografias, a última, do Paulo Coelho - o que foi um susto, porque ela não suporta os livros do mago. Desde que eu errei e dei Brida com os poucos trocados que me sobravam na faculdade. A mãe leu rapidinho e tascou um "é interessante". Ou seja, não (da biografia, por Ruy Castro, gostou e ri muito ao lembrar).
Hoje minha mãe mora sozinha. Eu me preocupo. Dei um notebook pra ela se comunicar com os minha irmã e o neto, que moram no interior, via Skype. Vamos ver se ela se adapta. Tento me fazer presente e, principalmente, garantir que ela tenha a melhor companhia. Claro: de um bom livro.
Dá pra sua mãe livros do Philip Roth, John Steinbeck, Henry Miller, Virginia Wool, ou quem sabe os orientais, Kawabata.
ResponderExcluirBjos!