segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Não há metafísica nos livros

Não há metafísica nos livros, assim como não existem mágicas nas palavras e na literatura. O que transcende pode vir a acontecer, e não acontece sempre, no modo como as palavras reverberam. Os bons livros, aqueles que nos encontram e a partir dos quais nos encontramos, ganham vida através de nós.
Os livros, objetos, não só as palavras nele contidas – mas também elas –, são uma existência à parte; todos eles têm uma história a partir do momento em que ganham forma. Não posso imaginar quão maravilhoso seria termos acesso às prenhes e férteis idéias que geraram os livros; e quantas boas hipóteses encontraríamos também no que foi descartado ao longo do tortuoso trajeto que percorreram até o produto final.
Além de cores, fontes, texturas e formas, livros têm aromas que variam de acordo com a idade, o manuseio, o armazenamento e o tipo de papel. Um livro grifado por um leitor que nos antecedeu são três: o que foi escrito, o que lemos e o que imaginamos a partir dos grifos daquele que leu. Livros novos, virgens, sobretudo se recém-lançados ou lidos por poucos, têm a vantagem de serem – ou parecerem ser – quase exclusivos; são como tesouros, e por isso os mantemos guardados dos olhares curiosos. Nos apaixonamos também pelo contato físico com o objeto-livro, por isso o incorporamos à memória afetiva de um modo especial.
Ter um livro em mãos é uma deliciosa experiência tátil secretamente complexa. É desvendar um novo mundo e antecipar descobertas que o futuro reserva. Ler um livro é, generosamente, colocar-se à disposição do autor e despir-se de conceitos e pré-conceitos, para imergir na criação daquele que escreve. É ampliar a possibilidade da existência de um universo a partir do outro. É observar o outro e, sendo também ele, encontrar novos modos de sermos nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário