terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dar não é fazer amor - ainda bem!

Desconfio de todos aqueles que fazem amor. Primeiro, porque mentem; é impossível fazer um sentimento. E depois, entre inúmeros outros motivos, porque os que fazem amor são, inevitavelmente, chatos. E hipócritas.
Quem faz amor leva pra cama o sonho, nem sempre real, da família e da vida perfeita; omite e falseia, não só pra quem o acompanha, as sensações. Quem faz amor provavelmente age, no sexo, de acordo com os filmes pornográficos com os quais foi educado. A mulher, se não permanece inerte, age ridiculamente; e o homem, depois de excitado, não precisa de nada além de um depositório de esperma, enquanto faz amor. Os que fazem amor podem sincronizar os movimentos, mas não têm sintonia. Porque desconhecem os próprios desejos, os que fazem amor não alcançam o outro. Fazer amor é fazer teatro para fugir do sexo, que, pra quem faz amor, é sujo, errado e proibido. A menina que praticava sexo anal e oral “pra continuar virgem” provavelmente vai passar a vida fazendo amor.
Não é mais fácil nem mais difícil fazer sexo com quem dá, mas é mais gostoso. E não só as mulheres dão. É humano dar-se ao momento, estar presente e inteiro ali – e o ali pode ser a cama, o motel ou o banheiro do avião –, quando encontramos o outro. Só dá quem se conhece e se experimenta, e por isso pode descobrir um corpo que não é o seu e permitir que o outro o descubra para, juntos, alcançarem o desconhecido. É trabalhoso encontrar-se a ponto de conhecer as próprias vontades e, por vezes, para afirmá-las, fugir aos padrões. Dar é estar de acordo com o outro por um momento – que pode ser uma vida ou uma noite. Quem dá não precisa de cenário ou figurino, mas precisa sentir e proporcionar prazer, sem culpa, respeitando os limites do outro e aceitando as próprias limitações.
Fazer amor é impossível; para os que fazem amor, o amor é um sentimento desconhecido. Mas é possível, e inevitável, dar para aquele que amamos. Não há quem discorde: o sexo é mais saboroso com amor.

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