terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O ÓBVIO

Superhomem - a canção
letra e música: Gilberto Gil
1979

Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter

Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver

Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh, mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe
O Superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher

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Gilberto Gil estava hospedado na casa de Caetano Veloso no Rio de Janeiro, quando, um dia, o anfitrião chegou entusiasmado com “Super-Homem” (“Superman”), um filme que acabara de assistir, com Christopher Reeve no papel do herói. Então, Gil “viu o filme” através da narrativa de Caetano e naquela noite não conseguiu dormir. Ficara tão impressionado com a imagem do Super-homem fazendo a Terra girar ao contrário em seu movimento de rotação, a fim de voltar o tempo e salvar a mulher, que acabou pulando da cama para compor “Super-Homem — A Canção” em apenas uma hora, o que contraria o seu método habitual de trabalho: “Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria / que o mundo masculino tudo me daria / do que eu quisesse ter...”

Gil esclarece no livro Todas as letras: “muita gente confundia essa música como apologia ao homossexualismo e ela é o contrário. (...) Eu tinha feito ‘Pai e Mãe’ antes, já abordara a questão, mais explicitamente da posição de ver o filho como o resultado do pai e da mãe. Em ‘Super-Homem — A Canção’, a idéia central é de que pai é mãe, ou seja, todo homem é mulher (e toda mulher é homem).” Inegavelmente, os versos finais da canção, que a princípio soam como algo conhecido, agradam em cheio o público feminino: “Quem sabe/ o Super-Homem venha nos restituir a glória / mudando como um deus o curso da história / por causa da mulher” - “Super-Homem — A Canção” (o subtítulo foi criado para diferenciar do filme) e outras composições já citadas fizeram de Realce um dos álbuns da maior importância e vendagem na discografia de Gilberto Gil (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

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