terça-feira, 25 de agosto de 2009



Traduzir-se
(Ferreira Gullar)

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?



Sempre amei esse poema do Ferreira Gullar, mas só há pouco tempo descobri que ele tinha sido musicado. E lê-lo agora, pra postar aqui, fez todo o sentido.


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