sábado, 17 de outubro de 2009

Carlos Drummond de Andrade e seus poemas eróticos


Este poema sacana de Drummond revela uma de suas facetas menos conhecidas, menos comentadas e discutidas. E também, eu diria, uma das mais interessantes. Mas, com todo o respeito, ela sempre me intrigou. Quem se lembra do poeta, tão mineiro, sua fisionomia do poeta, de seu jeito tímido de ser, quem o via caminhando no Posto 6, certamente voltando da casa dela, não podia imaginar... o que ele fazia entre quatro paredes, seus fetiches (a bunda feminina era uma delas), suas amantes e fantasias. Drummond deixou muitos poemas que vão do erótico ao pornográfico, alguns completamente despudorados. A maioria ele escreveu na década de 70 e foi publicada em 'O amor natural'. Entre tantas preciosidades revelsdoras dos segredos de alcova do nosso poeta, escolhi esta.

O que se passa na cama

(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)


É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis.


Ai, cama canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme onça suçuarana,
dorme cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima… O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.


E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.

(Carlos Drummond de Andrade em O amor natural)


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